terça-feira, 28 de novembro de 2017

AMARGOR

É muito comum ouvir pessoas alegarem que não gostam de cerveja por ser uma bebida amarga e na contra mão dessa opinião, outras expressarem sua predileção por cervejas extremamente amargas. Essa divisão de opiniões e prejulgamentos errados são devido a um "carinha" muito importante na cerveja conhecido como lúpulo. O lúpulo é uma planta trepadeira, cujo nome científico é Humulus Lupulus e segundo a botânica pertence a família das Cannabaceae, tendo como distante "parente" a tão conhecida Cannabis ou vulgarmente conhecida maconha, porém, eliminem a preocupação que possa surgir para alguns em relação a essa proximidade familiar, pois o nosso lúpulo não oferece risco (hehehe) e mesmo se alguém ter a péssima ideia de querer fumar um cigarrinho de lúpulo terá ao contrário de prazer uma horrorosa sensação amarga incalculável.
Voltando a questão de cerveja e amargor, as pessoas que alegam preferir outra bebida que não seja amarga pecam por desconhecimento, pois existem inúmeras cervejas que apesar de apresentarem em sua composição variedades ou apenas um tipo de lúpulo, não possuem amargor extremo, deixando a bebida como uma drinkability formidável e de fácil aceitação. E no caso de tais cervejas menos amargas qual é o motivo de usar o lúpulo então? Primeiramente, por ser além de um agente que trás amargor a bebida um conservante natural, além disso o lúpulo confere também notas cítricas, terrosas, resinosas, florais, herbáceas e uma infinidade de outras sensações gustativas e aromáticas. Dessa maneira essa plantinha tem o potencial de alterar totalmente as nuances da cerveja. 
Um exemplo do poder conservador do lúpulo é a própria história (mais comum e conhecida) do surgimento das cervejas inglesas chamadas Indian Pale Ale - ou IPA, que recebiam grandes quantidades de lúpulos para suportar a longa viagem de navio entre a Inglaterra e a Índia na época da colonização inglesa. O leque de lúpulos existente é bastante vasto e uma combinação equilibrada entre variedades pode conferir a cerveja identidades muito singulares, fornecendo além do sabor amargo peculiar, notas diversas e aromas instigantes a quem se propõem degustar a bebida ao invés de simplesmente "beber cerveja" - qualidade x quantidade.
Mas o uso do lúpulo pode ser considerado recente se comparado a longa história da cerveja, afinal é uma bebida fabricada na antiga Mesopotâmia (atual Iraque e adjacências) e naquela época o lúpulo não era conhecido nem de longe. Eram então usados compostos formados por raízes, cascas e ervas medicinais e aromáticas dando a bebida notas de amargor e outros sabores. Uma particularidade do uso desses buquês de ervas, que eram conhecidos como Gruit era que entre as ervas podiam encontrar algumas com verdadeiro poder entorpecente, fazendo com que os efeitos da bebida alcoólica se potencializasse ainda mais.
O lúpulo dito de origem européia e seu uso na fabricação da cerveja encontrou muitas barreiras, principalmente em relação a questão comercial, pois quem fornecia o Gruit para condimentar a cerveja não aceitava o fato de que o lúpulo substituiria seu ganha pão, porém, com o tempo a substituição não pode ser evitada. Foi a partir do século XVI que o uso dessa planta teve maior dissipação e passou a ser usado em larga escala na produção. Hoje o cultivo é feito em principalmente em alguns países da Europa, Ásia e Estados Unidos. Os lúpulos americanos surgiram como um divisor de águas, pois como algumas espécies europeias foram misturadas as nativas norte americanas, estas adquiriram aromas e sabores muito mais cítricos e resinosos, além do que alguns lúpulos nativos americanos possuem propriedades que são uma verdadeira explosão de aromas e amargor.
Com a globalização da cerveja, os ingredientes foram popularizados e hoje é possível encontrar ótimas cervejas feitas com excelentes combinações de lúpulos dos mais diversos pontos de produção. O que é possível apontar com certeza é que o aumento dos chamados "lupólatras ou lupomaníacos" tem se elevado cada vez mais e muitas cervejarias tem apostado forte nessa tendência. Com isso a força das cervejas IPAS e APAS e sua proliferação tem sido cada vez mais constante. 
A preferência por cervejas amargas ou não é o que menos importa, pois isso é muito subjetivo. É necessário antes de mais nada diferenciar e aprender as particularidades de cada cerveja antes de julgar que o próprio paladar gosta ou não da bebida. O espaço cervejeiro é amplo, é democrático e serve a todos, portanto meus amigos, com maior amargor ou dulçor, vamos de cerveja...
Zdrowie

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