quarta-feira, 30 de agosto de 2017

PRIMEIRA BRASSAGEM

Em dezembro/2016 foi dada a largada e iniciamos definitivamente o início da pequena e modesta produção, contudo, a primeira produção da Zdrowie. Após várias pesquisas e incertezas, a opção final foi uma tradicional cerveja belga, uma Blond Ale Belgian, cerveja considerada de fácil elaboração entre os cervejeiros mais calejados, porém saborosa e clássica... Um ótimo cartão de visitas.
Algo interessante e crucial em qualquer produção é estudar a receita proposta, sendo a produção pequena, média ou grande, isto porque toda cerveja possui características próprias, particularidades inseridas pela própria cultura cervejeira e local. Tais singularidades variam desde o malte usado, tipo de levedura e quantidade de lúpulos adicionado. Com o tempo percebe-se que cervejas alemãs tendem a um equilíbrio notório entre o malte, levedura e lúpulo; já as cervejas belgas em sua maioria valorizam com maior intensidade as leveduras, seus efeitos e sensações na bebida; "beras" inglesas gostam de exibir uma mescla de dulçor do malte e também um amargor intenso da lupulagem e as queridas e inovadoras norte americanas apresentam uma explosão de amargor devido a aplicação extrema de lúpulos de várias qualidades em suas receitas, mas essas características não são regras, são apenas as qualidades e parâmetros mais notados nas cervejas.

Além das escolas citadas existem outras dezenas de países que colaboraram e ainda colaboram muito com a escola e história cervejeira, como a República Tcheca, Irlanda, Rússia, Holanda, Áustria e para não ser injusto muitos outros que não aparecem aqui. Países com cervejas inovadoras e deliciosas como a Austrália e o próprio Brasil. Diante de tantas etnias diferentes, costumes e até mesmo matéria prima diferente devido a clima, tipo de solo e outros fatores, é fácil compreender a imensidão de estilos e tipos de cerveja existentes. Por essa infinidade de cervejas é que o cervejeiro precisa buscar um estilo que possa ser elaborado dentro de suas possibilidades, que podem ter variantes como equipamentos, clima e os próprios insumos utilizados. Arrisco dizer que se você possuir os quatro elementos básicos - água, malte, levedura e lúpulo - será possível criar uma cerveja, porém a mesma poderá ser qualificada como uma cerveja anônima, ou seja, sem estilo definido. Para evitar essa situação sempre é válida uma composição de receitas que se enquadrem em um estilo, podendo receber algumas adaptações, contudo, mantendo uma classificação existente no mundo cervejeiro. 

Um dos guias de estilos mais usado é o BJCP - Beer Judge Certification Program, que é uma Comissão Internacional de Estilos de Cerveja, que auxiliam muito o cervejeiro, pois essa comissão condiciona as principais características das cervejas existentes, características essas como níveis de amargor, cor, sabor e aroma. Essa busca é muito importante ao definir o estilo da cerva que arriscará fazer. 

Na minha opinião nada impede mudanças desde que tragam um benefício à bebida. Minha própria Blond Belgian, que foi a primeira brassagem, sofreu uma mudança sutil no nível alcoólico final, pois como minha preferência é por cervejas menos alcoólicas e um pouco mais amargas, abandonei a parte da receita que requeria adição de açúcar e caprichei um "pouquinho" mais na lupulagem. O resultado foi uma cerveja com as características exigidas pelo estilo, porém com um nível de álcool mais moderado e um amargor minimamente mais presente. Ficou bem legal.

Por isso amigos, façam a cerveja da melhor forma possível e que agrade primeiramente a você. A partir do momento que comece a fazer cervejas para concursos, aí sim é o momento de seguir a risca os estilos, podendo incluir alguns adjuntos cervejeiros desde que a cerveja não perca sua identidade, pois é essa identidade que os jurados irão buscar inicialmente. Agora, se for fazer uma cerveja caprichada, bebível e saborosa, faça o melhor, mas preze o seu gosto próprio e se essa "bera" ficar boa, me chama para provar...
Zdrowie.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

PRODUÇÃO CERVEJEIRA

Apesar  de  algumas  similaridades, a  produção cervejeira em escala artesanal  está  distante  da  realidade  fabril de  muitas  marcas existentes. A própria concepção de ser artesanal remonta a algo mais específico, com um contato muito maior em  toda a operação, fato que faz  com  que  o  cervejeiro  artesanal deposite muito mais paixão e loucura pelo o que faz, afinal o  que está para surgir é uma cerveja elaborada e feita por ele mesmo, sua arte, sua cria...

O intuito desse canal não é desmerecer as grandes cervejarias e suas cervejas, tecer críticas ou comparações injustas alegando que A é melhor que B, a ideia é se divertir nesse mundo fantástico da boa "bera" especial. Até mesmo porque não daria certo promover comparações, pois nem todas as pessoas que gostam de beber uma cerveja, preferem as artesanais - o mercado é amplo e tem cerveja para agradar a todos (hehehehe).
Um dos grandes baratos das mini, micros ou nano cervejarias instaladas por todos os cantos em cozinhas, varandas e churrasqueiras, são as ideias, a persistência e teimosia. A criatividade e curiosidade são parceiras da boa cerveja, aliada é claro a obediência cega a alguns princípios basilares da cervejaria. Utilizar matéria prima de ótima qualidade traz garantia de que o produto final agradará, ou pelo menos, minimiza o risco de não alcançar tal objetivo, pois todos estão sujeitos a erros em uma produção e o resultado ser diferente do esperado. E, quando isso ocorre é necessário repetir e corrigir - nada de desistir da empreitada!
Quando se fala em cerveja a grande escola alemã é precursora em uma das regras mais importantes para se fazer uma boa "cerva" que é ter instituído a  Reinheitsgebot ou a Lei da Pureza Alemã em 1516 (longe pra caramba dos dias de hoje), que funcionava como um selo de qualidade na época, obrigando aos cervejeiros a usarem apenas três ingredientes na produção: água, malte e lúpulo. É lógico que o pensamento da época era de garantir qualidade, porém muitos aspectos da própria manufatura eram desconhecidos e colidiriam com fatores descobertos mais tarde, como a própria levedura ou fermento cervejeiro. O fermento ao contrário do que muitos imaginam é que é o verdadeiro alquimista nessa história, pois ele converte os açúcares fermentáveis em alcoóis, dando personalidade própria a bebida e após aliar-se as propriedades do lúpulo, convergem em uma notável bebida. 

Portanto, se a Reinheitsgebot fosse escrita nos dias de hoje, fatalmente incluiria a levedura como o quarto elemento essencial e nada mais justo que colocá-la em primeiro lugar na lista.
Mesmo assim a Lei da Pureza encontraria outros obstáculos como os adjuntos, que nada mais são do que elementos misturados a cerveja para dar características próprias a bebida, e, vos digo que funciona muito bem!
Particularmente sou a favor de um aditivo na Lei da Pureza (rsrsrsrs), pois a inserção de outros produtos, desde que muito bem elaborados e experimentados, trazem personalidade a cerveja e inovação. A minha pequena produção é uma mescla de resultados, pois além de seguir alguns requisitos obrigatórios nos estilos, acabo sempre me rebelando contra o que diz a cartilha e altero algum insumo aqui e ali. Não sei dizer se o resultado agrada e satisfaz aos amigos que provam, porém acredito que primeiramente é preciso fazer a cerveja para você e é a você que a bebida precisa agradar. Parece algo meio egoísta, mas o mundo mostra que você nunca agradará a todos, então que me agrade primeiro (hahaha).
O assunto é muito extenso e na medida do possível quero incluir nesse canal algo sobre o que aprendi nessa pequena jornada. Dividir para termos mais pessoas fazendo boas cervejas. Ainda estou aprendendo e julgo que nunca serei aquele "expert" no assunto, mas minha bera já está na área e isso já me deixa satisfeito, então pessoal... "Bora brassar"

Zdrowie! 

zdrowie - kingereski piwo

Nossa, mas o que é isso? Pergunta mais do que corriqueira nos últimos tempos (hahaha), podendo soar estranho, mas no mínimo divertido (ao menos para mim)... Quem me conhece sabe que sempre gostei de cervejas e nunca escondi tal paixão e curiosidade sobre assunto. Quando possível, provar uma cerveja diferente era algo que me enchia de prazer. Sentir o sabor, o aroma, observar a cor ou sua espuma, buscar nuances de ingredientes adicionados e até as informações contidas nos rótulos eram importantes, tudo isso, de alguma maneira me ensinava algo.

O assunto fascinava tanto que já não era suficiente curtir apenas a fabricação dos outros, eu queria mais... O ano de 2016 foi de muita pesquisa e Dezembro/2016 foi o divisor de águas. Após alguns planos ventilados, esquecidos e revogados com o tempo, veio à tona a necessidade pessoal de responder a um questionamento próprio: e porque não? "Bora" colocar em prática essa loucura, afinal a vida por si só é uma loucura muito maior... Com incentivo de minha querida e parceira de todas as horas Zeti Kingereski, corremos atrás de panelas e uma série de apetrechos para ingressar nesse maluco mundo da cerveja artesanal. Corre pra cá e segue pra lá, ajusta algo aqui, improvisa uma gambiarra ali e finalmente, com bastante cuidado e zelo saiu a primeira leva de cerveja.

Uma receita relativamente fácil, mas que nos encheu de alegrias. Tudo feito com carinho, dedicação e cuidado, afinal pode ser artesanal, feita na cozinha, varanda ou fundo de quintal, mas a escolha de matéria prima de qualidade e higiene devem ser elementos essenciais e obrigatórios para o sucesso da empreitada cervejeira.
Muito bem, cerveja pronta e agora? É necessário "batizá-la", não com água na mistura (kkkk) mas com um nome, com uma identidade - nome e sobrenome talvez! Aqui surgem elementos culturais que corroboram com os apontamentos feitos que "cerveja não é só cerveja", tem sempre algo a mais por trás. Zdrowie kingereski piwo, estranho a primeira vista, mas totalmente viável de compreensão e toda explicação nesse caso acaba colidindo com minha descendência: polonesa.

Nada complicado, afinal "zdrowie" é a palavra usada para saudar o brinde (na zdrowie) o nosso famoso tim-tim; "kingereski" provém do meu sobrenome e "piwo" é fácil, afinal é o motivo: cerveja. Tudo muito fácil e alinhado (rsrsrsrs).
Antes que alguém questione a forma que optei em destacar minha querida cidade, esclareço que não existe erro ortográfico, apenas adotei a grafia polonesa e única para identificar o berço dessa cerveja - Curitiba - ou melhor, Kurytyba, grafia singular e oferecida em homenagem a capital paranaense por ela ter uma das maiores colônias de poloneses e descendentes fora da própria pátria "polaca", perdendo o título de maior apenas para Chicago - USA, mas isso é história para outro momento, contudo, como sempre friso... é história... é cerveja... é sonho realizado...

NÃO É SÓ CERVEJA...

A ideia mais comum em relação à cerveja é de uma bebida mundialmente comum e  talvez por essa relação global sua imagem esteja associada a algo frívolo e simplório. Uma bebida encontrada em quase qualquer lugar, sendo possível encontrá-la praticamente em todos os cantos do planeta, por mais inusitado ou distante que esse lugar o seja.
Entretanto, se melhor observada, a distinta bebida também pode ser facilmente vinculada a alegrias, confraternizações, ou então a uma maneira bastante usual de relaxar na correria do dia a dia. Se consumida exageradamente, como qualquer coisa em excesso se torna prejudicial, mas diante de um consumo moderado e racional, passa a ser sutil e capaz de oferecer a pessoa um agradável prazer.
Mas além de sua capacidade quase anestésica e relaxante, a cerveja esconde muito mais predicados que se pode imaginar. A bebida tem por trás de seu rótulo, de sua cor, espuma e sabor, muitas histórias e curiosidades. Uma bebida tão antiga quanto o vinho e basicamente fabricada por todos os povos e em todas as eras a partir do instante que o homem passou a desenvolver a agricultura.
As técnicas foram apuradas, as matérias primas foram aprimoradas, equipamentos modernizados, mas o melhor de tudo é que com dedicação e seriedade é possível fazer em sua própria casa uma bela e excelente cerveja, de forma artesanal, juntar os amigos, a família, contar histórias, brincar sobre o assunto e ainda se deliciar com uma gelada - ou quase gelada...
"Na zdrowie" amigos...