sexta-feira, 27 de outubro de 2017

STO AMARGO

Os Estados Unidos são uma das grandes potências mundiais em todos os sentidos e em relação à cerveja não poderia ser diferente. Apesar de sua cultura cervejeira ser muito recente se comparado as grandes escolas europeias, uma economia do tamanho da americana obtém destaque nem que seja na força (rsrsrs), portanto, se a cerveja norte americana não possui raízes tão profundas na história é necessário no mínimo reconhecer a notória mudança em relação as cervejas mais lupuladas - as IPAs e APAs, promovidas por esses cervejeiros tão inovadores.

As IPAS inglesas estão fortemente ligadas a paternidade desse estilo, contudo os cervejeiros americanos trataram de recriar a forma de fazer a IPA, criando uma identidade própria para suas cervejas Indian Pale Ale, deixando basicamente como semelhança principal os nomes e maltes. Tal diferenciação é sentida primordialmente no amargor, não que as inglesas não sejam amargas, contudo o tipo do amargor é que define essa clara diferença. Enquanto o amargor da IPA inglesa é mais equilibrado, comportado e floral, as americanas parecem uma cerveja revoltada com a vida (rsrsrsrs), com amargor mais intenso, cheio de notas cítricas e resinosas, além das altas cargas de lúpulo e combinação entre suas variedades locais.

Apesar de ser claro: lúpulo é amargo e ponto final! Essas "inocentes" plantas são responsáveis também por aromatizar a bebida e nesse caso os lúpulos americanos são sensacionais, trazendo consigo características muito próprias que remetem a um frescor desejado e procurado por quem se aventura e beber uma american IPA. Eu pelo menos, busco de início identificar o cheiro peculiar dos lúpulos de aroma usados nesse estilo de cerveja. As vezes o sabor é muito bom, mas a carga de aroma promovido por uma lupulagem correta e agressiva na fervura ou no dry hopping é ausente e isso frustra um pouco quem aprecia uma IPA americana. A levedura utilizada geralmente nesse estilo também auxilia o glamour do lúpulo, pois na maioria dos casos é usada uma levedura muito neutra, que não deixa rastros finais na bebida e não tenta roubar a cena.

De maneira geral a american IPA deve ser sinônimo de cerveja amarga e refrescante ao mesmo tempo e dentro de tais expectativas surgiu uma delícia chamada StºAmargo, uma especial american IPA com alta carga de lúpulos made in USA. Feita com maltes de primeira linha e utilização de quatro tipos diferentes de lúpulos. Uma belezura, linda na cor, no sabor e no aroma, com uma espuma consistente, com um teor alcoólico muito interessante de 6,3%, porém sem acusar no aroma tal nível etílico(evidente que após algumas garrafas a força oculta desse álcool se mostrará bem presente rsrsrs) e com o principal: a assinatura da zdrowie kingereski piwo...

Na Zdrowie amigos!

terça-feira, 17 de outubro de 2017

NESS33

Nossa mais recente aventura foi mergulhar em uma receita pertencente a escola britânica de cervejas. A influência britânica na história da bebida é evidente e amplamente conhecida, mesmo que de forma resumida, afinal foi na Inglaterra que surgiu um estilo muito conhecido e difundido pelo mundo afora: as IPAs. Entretanto não é uma cerveja IPA o foco hoje e sim uma outra cerveja, outro estilo, outro gosto...
A escola britânica pode ser compreendida por estilos criados praticamente em três países distintos: Inglaterra, Irlanda e Escócia. A Inglaterra contribuiu com suas Bitters, IPAs e Porters, enquanto na Irlanda surgiu a Stout Porter, atualmente conhecida apenas como Stout que é uma versão mais lupulada das Porters inglesas. A Escócia sempre foi notada por seus famosos uísques "puro malte" (puro malte? coincidência deliciosa), pois em suas fabricações eram usados 100% de maltes, afinal o clima da Escócia contribuí até os dias de hoje para o plantio da cevada, fato contrário para o cultivo do lúpulo. Com essa abundância de malte de boa qualidade e a necessidade de uma cerveja local, passaram a ser fabricadas as scotch ales, que são cervejas mais escuras, encorpadas e com teores mais elevados de álcool. 
A ideia inicial foi criar uma "bera" dentro desse estilo, porém que envolvesse uma complexidade maior e lembrasse o país berço de tal estilo e também tão respeitado por seus excelentes e pioneiros uísques. Como acho sempre relevante o envolvimento da história e curiosidades locais, comecei a pesquisar sobre as curiosidades escocesas e uma delas chamou muito a atenção, por ser antiga e ao mesmo tempo contemporânea e estar enraizada firmemente nas crendices e cultura popular escocesa. Me refiro a "lenda" do monstro do lago Ness, uma história (verídica ou não é irrelevante para a cerveja rsrsrs) que já ilustrou livros, telinhas e telonas. A história retrata a existência de uma criatura enorme sob as águas do grande lago Ness, situado nas terras altas da Escócia e cuja área é de mais de 56 quilômetros quadrados, podendo ter em alguns pontos até 230 metros de profundidade. Nesse pitoresco ambiente aquático foi descrito o avistamento de uma espécie de dragão marinho gerando com isso histórias, frenesi, suspense e carinho. 
O primeiro relato autenticado sobre o tal monstro, que aliás, é chamado carinhosamente de Nessie pelos moradores da Escócia, aconteceu em 1880 e foi testemunhado por um mergulhador profissional. Muitos outros testemunhos surgiram após 1880, mas foi uma matéria jornalística feita em 1933 pelo jornal local The Inverness Courier que tornou o assunto famoso e atraindo à atenção do mundo todo.
Se "Nessie" existe jamais saberemos (talvez um dia...), porém a scotch ale da Zdrowie batizada de Ness33, essa sim existe e com muita presença. Trazendo a ideia "à tona", essa pequena cervejinha surgiu com muita personalidade e força. A combinação de maltes pale ale e maltes especiais deixou a cerveja muito bem encorpada, com aromas e sabor intensificado por um belo dry chips (rsrs) de carvalho e uísque escocês. O lúpulo age como coadjuvante, porém nem por isso despercebido, dando à bebida notas levemente amargas e equilibradas com o sabor dos maltes. Para arrematar, a Ness33 foi feita com uma levedura de linhagem inglesa, mantendo ainda mais as raízes na escola da grande ilha britânica e rendendo a ela um teor alcoólico (abv) de nada menos do que 6,5%.
Na falta da certeza de visitar a Escócia e ver de perto o lendário monstro do lago Ness, vou preferir ficar aqui pelo sul do Brasil e se deliciar com uma real scotch ale, afinal de contas Ness por Ness, sou mais essa da zdrowie...

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

aPRIMEIRA

Falar de cerveja belga é fácil, afinal elas são excelentes. Apesar do seu pequeno tamanho territorial se comparado a seus vizinhos França e Alemanha, além é claro da Holanda com sua importância no mundo cervejeiro, a Bélgica parece incluir magia em suas receitas de belas e deliciosas cervejas, sendo considerada por muitos uma das escolas mais importantes no mundo cervejeiro.
Diversos são os estilos desenvolvidos pelos belgas, sendo os mais comuns a belgian blond, saison, witbier, dubel, tripel, quadrupel e as mais calorosas em teor alcoólico conhecidas como strongs, onde dois estilos se sobrepõe: as strong golden ale e strong dark ale. A Bélgica conta com mais de mil rótulos de cervejas catalogadas, fato que possibilita imaginar a grande variedade de receitas dentro de seus estilos. Devido a isso, sem dúvidas que o país merece destaque em relação a inventabilidade, pois seria impossível manter o sabor e característica das cervejas no meio de tantas brassagens diferentes. Esse fato só enriquece e aumenta a curiosidade sobre as "beras" daquele país. A maioria maciça são cervejas de alta fermentação - as famosas Ales.
Cerveja e religião possuem também forte laço na história da bebida belga, afinal não seria novidade citar que cervejas, licores, vinhos e hidroméis tiveram muitas vezes origem em mosteiros de diferentes ordens religiosas. Contudo, a Bélgica abriga seis de onze mosteiros famosíssimos por sua produção cervejeira. Inicialmente a cerveja produzida nesses mosteiros há muitos anos serviam para atenuar a sede e alimentar os viajantes que por ali passavam. Com o tempo surgiu a necessidade de uma cerveja mais encorpada e nesse momento é que surgiu a conhecida cerveja Trapista, que ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é um estilo de cerveja e sim uma cerveja que possui características singulares e pertencentes somente aos mosteiros que a produzem - podemos entender como um selo de qualidade e autenticidade. A mesma cerveja pode ser feita fora desses mosteiros, porém recebe a denominação de  cerveja de abadia e não trapista.


Esses monges são também conhecidos pelo próprio nome adotado para a cerveja: monges trapistas, os quais pertencem a ordem dos Cistercienses, conhecidos como monges brancos e com "os dois pés" na ordem Beneditina, cujos integrantes, além de viver em mosteiros, fazem três votos sagrados e comuns na ordem que é o voto de pobreza, castidade e obediência. A principal causa da criação da cerveja trapista foi devido a necessidade de uma bebida que suprisse a necessidade de alimentos durante os longos períodos de jejum dos religiosos. A cerveja trapista é uma bebida forte e encorpada, que de fato mostra ao corpo sua presença e os mosteiros produzem a bebida em três formas: a Dubel, a Tripel e a Quadrupel.
Alheio a toda essa complexidade das cervejas trapistas, as demais cervejas e estilos merecem também atenção especial, pois todas trazem peculiaridades que excluem qualquer similaridade entre si. Cervejas witbier são feitas com trigo, condimentadas e muito refrescantes, ótimas para serem tomadas em dias quentes. As saisons surgiram sazonalmente nas épocas de finais de colheitas e durante os climas mais frios. Em uma época sem refrigeração, a cerveja era feita em momentos de menor atividade agrícola aliada a temperatura mais branda, para que a ao final do processo a bebida não azedasse. Muitas receitas eram e  ainda são submetidas a fermentação secundária.  Cervejas fermentadas com leveduras selvagens são mais raras, mas ainda possíveis de serem encontradas e quando isso ocorre oferecem ao palato e olfato notas misteriosas.
A dark ale e gold ale são cervejas mais fortes, as conhecidas "strong bier", carregando mais corpo e muito mais teor alcoólico. Excelentes e complexas, se diferenciando principalmente pelo grupo de maltes usados, onde a "dark" usa malte mais torrado, que podem dar a bebida notas de café e chocolate e obtém peso alcoólico maior. Existem classificações que colocam as dark strong ale no mesmo patamar das quadrupel e em alguns casos até as classificam como mesmo estilo de cerveja. Essa confusão existe e está longe de acabar, por isso: relaxe, abra uma garrafa e esqueça essa discórdia...
As blondes também tem um alcance gigantesco quando o assunto é cerveja belga, pois trata-se de um estilo bem difundido e suas cervejas possuem coloração dourada, algumas mais claras e outras que causam impacto profundo ao cair na taça. Os sabores são sempre peculiares ao tipo da levedura utilizada e combinação de maltes. O lúpulo aparece apenas como coadjuvante, tendo em vista que o corpo mais acentuado da bebida e seus sabores que lembram especiarias, frutas e pão são os mais presentes. 
Esse estilo de cerveja foi influência direta para a primeira brassagem da zdrowie kingereski piwo, que ao longo desse quase primeiro ano, modificou algumas vezes até definir sua receita "em tese" definitiva. Nossa blond ale belgian, recebeu o nome de ªPrimeira, exatamente pelo fato de ter sido a primogênita de muitas (assim espero); uma cerveja com corpo médio, boa carbonatação e teor alcoólico de 6,5%. O amargor do lúpulo é um pouquinho mais pronunciado, mas não chega a fugir do estilo. O aroma lembra a pão e frutas, bem típico do estilo belga.
A ªPrimeira tem sido uma fiel companheira e sempre que é possível tenho se deliciado com algumas taças, sempre na boa companhia dos amigos, família, risadas, boa comida, que proporcionaram excelentes momentos... 
Zdrowie