sexta-feira, 29 de setembro de 2017

PÃO DE MALTE

Pão? Sim... afinal nem só de cerveja vive o homem (rsrsrs), e não é um pão qualquer é um delicioso pão de malte!

Uma das coisas divertidas dentro do pequeno mundo da cerveja artesanal é poder criar... dar asas a imaginação no que diz respeito a nossa tão amável bebida. Tirando todo o trabalho da produção, o cuidado e atenção necessária que dura dias e mais dias até o momento de saborear a cerveja de uma garrafa recém aberta, a parte bacana é poder inovar e inventar. Quando o "cidadão" começa a gostar da cerveja artesanal não tem volta, o interesse fica cada dia mais aguçado sobre o assunto. A curiosidade sobre a bebida, ingredientes, formulação, maturação e outros tantos pontos de discussão são materiais extremamente saudáveis e que podem tomar horas e horas de uma conversa entre amigos (claro que sempre acompanhada de uma boa "bera", caso contrário, a conversa pode manter-se interessante, mas... a boca fica seca!).



Contudo, quando esse interesse bate a porta não é só da cerveja que se fala e sim de tudo que está a sua volta. E nesse viés eis que surge uma nova figura ilustre para acompanhar uma boa e elaborada cerveja artesanal - um pão de malte! E lhes digo que é uma delícia, saudável e muito nutritivo. A produção cervejeira resulta em uma sobra muito grande de resíduos sólidos que é o próprio malte utilizado na brassagem. Esse malte, formado em sua grande parte por cevada, mas podendo conter trigo, centeio, aveia e outros elementos, estará praticamente cozido e pode ser utilizado em vários tipos de massas para pães, biscoitos, pizzas e outras que assim surjam.



No meu caso específico, sempre uso o malte para fazer pães que ficam com a  cara dos "famosos" pães integrais, mas muito mais gostosos, além de ser riquíssimo em fibras. Conforme o gosto do freguês (rsrsrs) pode usar o malte para fazer de fato um pão mais light, voltado a quem segue uma dieta mais rígida - aqui sempre encontro um obstáculo: cerveja e dieta são inimigos e não combinam - por isso prefiro que meus pães sejam feitos para serem apreciados e não regulados. Não digo que fica um pão para glutões, porém fica um pão para sustentar o corpo e a alma, cuja massa é feita com nosso malte, farinha de trigo, ovos, manteiga ou banha de porco (muito melhor), leite, mel e às vezes até com um recheio de linguiça ou torresmo moído. Galera... fica muito bom, vão por mim!

A receita fica  a cargo de cada um, afinal pão não precisa de receita, vai misturando tudo, a massa cresce, você sova, assa e quando aquele cheiro delicioso fica vagando no ar é porque o grande momento chegou... Pode ser devidamente "devorado" ainda quente e com manteiga (minha preferência), com uma boa xícara de café, mas, se for o caso de um pão de malte recheado com linguiça ou torresmo, diria que nada afastaria de minha mente acompanhá-lo 
com uma boa e espumosa cerveja...
Zdrowie
  
 

terça-feira, 26 de setembro de 2017

AMERICAN KÖLSCH

Não é novidade que a Alemanha é um dos ícones quando o assunto é cerveja e algumas de suas cidades se tornaram especialistas em alguns estilos muito singulares como é o caso da cidade de Colônia.
Köln, como é chamada em alemão é um destaque no cenário nacional, ocupando uma posição privilegiada entre as cinco maiores cidades alemãs e entre as vinte mais importantes da União Européia. Possui destaque econômico e cultural, afinal desde seu nascimento já se passaram dois mil anos, tempo suficiente para que suas raízes chegassem muito fundo na história e a tornassem um importante símbolo dentro da Alemanha e da Europa.
A cidade abriga um importante porto fluvial as margens do Rio Reno, além de possuir uma vasta importância educacional e cultural, contando com uma universidade importantíssima e diversos outros institutos de ensino, além de dezenas de museus e infinitas outras opções culturais. Dos muitos locais a serem visitados na cidade, a Catedral de Colônia, conhecida como Kölner Dom, possui destaque especial na lista de qualquer visitante. Dom é uma igreja católica em estilo gótico, que já sustentou o título de ser a construção mais alta do mundo em 1880, ano de sua conclusão. Sua construção levou mais de 600 anos e até os dias atuais é possível observar andaimes à sua volta, necessários para reparar suas altas, centenárias e históricas paredes e torres. De acordo com a história, a catedral guarda os restos mortais dos três Reis Magos - Baltazar, Melchior e Gaspar - e isso foi o principal motivo para o início de sua construção, quando tais relíquias religiosas foram trazidas de Milão - Itália para Köln - Alemanha.
Apesar de suas curiosidades a pergunta que alguém pode estar fazendo sobre a cidade é sobre a cerveja. Onde ela entra nesse contexto?
Fácil e gostoso de explicar! A cidade de Colônia possui uma cerveja própria, conhecida como Kölsch, cujo estilo está protegido por uma Convenção que determina que a mesma só pode ser fabricada nos arredores de Colônia. Isso é tão basilar que é um sacrilégio visitar a cidade e não provar a verdadeira Kölsch em um dos estabelecimentos que a vendem, e, são centenas de bares a disposição do sedento turista. A cerveja Kölsch é uma bebida limpa, de cor dourada clara ou com algumas variantes, sabor leve e equilibrado entre o dulçor do malte e a lupulagem, podendo apresentar um final mais seco e carbonatação média ou médio-alta.

Entretanto, as cervejarias de Colônia produzem suas cervejas impregnando nas mesmas características sutis, criando dessa forma identidades próprias, desde que dentro da Convenção criada para a proteção e singularidade da bebida local. Uma curiosidade local é que a cidade de Colônia é praticamente rival da cidade vizinha de Düsseldorf quando o assunto é cerveja. Uma outra cerveja alemã famosa conhecida como Altbier é originária de Düsseldorf e as duas cidades levam muito a sério a disputa cervejeira, tanto que, se por acaso alguém estiver visitando Colônia jamais peça uma Altbier, e no avesso dessa loucura, se estiver em Düsseldorf não cometa o equívoco de pedir uma Kölsch. Se não lembrar dessa "regrinha", corre-se o risco de ficar com a boca seca!
Diante dessa pequena amostra da história de Colônia ou Köln, surgiu nossa saborosa cerveja "american kölsch" chamada de DOM1880, pensada em homenagear tão famosa obra da arquitetura local, a catedral de Colônia inaugurada em 1880, ousando alterar parte da receita de uma cerveja clássica alemã, incluindo além do nobre lúpulo alemão uma dose bem evidente de lúpulo americano. O resultado disso? Só provando para ver...
Zdrowie 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

ESTILO LIVRE

As cervejas se diferenciam entre dezenas e dezenas de estilos, podendo variar de acordo com a região, maltes, leveduras, água, cultura local, uso e costume e outras infinidades de variantes. Ao iniciar qualquer produção cervejeira a lógica dita a necessidade de seguir um estilo para minimizar o risco de erros. Uma American IPA levará em sua composição principal um leque de lúpulos americanos de amargor e aromáticos para destacar a sua característica principal que é o amargor. Alguns estilos europeus, como ingleses mesclam o destaque dos maltes, porém, pode ocorrer sobressaltos de amargor, afinal as famosas "IPAS" foram criadas exatamente pela escola inglesa. Já algumas cervejas trarão uma sensação mais condimentada, frutada, temperada "e" ousada no teor alcoólico, como as famosas Belgas. Outra escola que deixou uma marca indelével no mundo cervejeiro foi da República Tcheca com sua "mundialmente conhecida Pilsner", ou vulgarmente e erroneamente conhecida como pilsen, caraterizada por um baixo teor alcoólico e de drinkability elevado.
Deixando outras várias escolas de lado, é fácil notar que os estilos podem ser repetidos em países diferentes, mas notoriamente serão acrescentados elementos que diferenciarão totalmente uma cerveja de outra, mesmo que pertençam a um mesmo estilo ou grupo cervejeiro.
Dentro dessa concepção, o bacana é poder brincar com esses elementos. Ousar seria a palavra mais correta, e, dessa ousadia surgir algo interessante e singular. O estilo livre é quase uma brincadeira que pode desencadear uma surpresa agradável. Escolher maltes, lúpulos e leveduras. Estudar quais seriam as melhores temperaturas para extrair o que esses maltes possuem de melhor. Imaginar o resultado de uma mistura de lúpulos, leveduras e adjuntos é algo que mexe com a cabeça do cervejeiro (kkkk).
Imaginando o final de uma empreitada maluca e incerta como essa, surgiu a "zdrowie - 1974", uma cerveja de vários estilos, bem carbonatada, corpo médio e bem amarga. Resultado de uma seleção de malte base, maltes especiais e trigo e com o toque de lúpulos americanos, alemão e tcheco. Leva ainda em seu arremate gengibre e casca de laranja, adjuntos comuns no Brasil. Uma cerveja com teor alcoólico de 5,7, contudo saborosa e sem o indesejado aroma etílico. Uma especial IPA bem especial!
Resumindo, estilo livre (na minha modesta opinião) é fazer cerveja para você mesmo primeiramente e se a receita agradar aos amigos - viva!!! Caso contrário, resfrie as garrafas um pouco, se ajeite e curta até a última gota...
Zdrowie.

sábado, 2 de setembro de 2017

O malte - a cevada - o princípio

Os quatro elementos essenciais da boa "bera" basicamente são o malte, a água, a levedura e o lúpulo. Juntos formam o quarteto fantástico da cerveja, os quatro cavaleiros do "não-apocalipse", pois em nada se assemelham as visões proféticas do apóstolo João (para nossa segurança e felicidade \o/) ou qualquer outro nome que particularmente queiram dar. Tem cerveja, tem a presença dessas figurinhas, salvo alguns estilos muito reservados de "cervas" que sobrevivem sem um ou outro desses componentes, sendo casos muito específicos.


É muito difícil apontar qual é o mais importante, existindo uma discussão ferrenha entre os milhares de cervejeiros que existem, cada qual defendendo um ou outro. Particularmente, se fosse para erguer a bandeira de algum seria das leveduras - as loucas por açúcares - mesmo sendo um apaixonado pelo amargor. Chego a ter dó de tanto que elas trabalham para transformar o mosto em algo saboroso e que possa então combinar e equilibrar-se com o amargor causado pela lupurina. Contudo, para que os outros elementos não fiquem enciumados, hoje o tema é o malte.

Cultivado pelo homem desde que a agricultura surgiu, o malte é imprescindível para a fabricação da cerveja, esse sujeito ao contrário do que muitos pensam, não vem direto da colheita para a panela cervejeira. Vulgarmente chamada de suco de cevada, a cerveja é injustiçada nesse ponto, pois quando a cevada vira malte, deixa de ser cevada, então ao menos poderíamos chamar de "suco de malte" que ficaria até mais chique - rsrsrs.
O malte surge através de um processo de malteamento, que nada mais é, de forma muito simples e "não didática", forçar com que o grão de cereal germine e após essa germinação, causar uma interferência, e, seguidamente levar o grão germinado para uma etapa de secagem ou torrefação. A germinação ocorre após os grãos serem umedecidos e ao germinar eles produzem enzimas essenciais e necessárias para a qualidade da cerveja. A secagem e torrefação são determinantes para a coloração, sabor e aroma do malte e terá influência direta no aspecto final da cerveja. Cervejas mais claras utilizam maltes com menor intensidade de secagem, enquanto que as mais escuras, variando de tonalidades âmbares e até mesmo pretas, receberão em suas receitas maltes claros para servirem de base e quantidades variadas de maltes mais torrados, conforme a intensidade de cor, sabor e aroma que desejam. Essa etapa da secagem e torrefação são cruciais e determinantes para a variação dos sabores dos maltes, gerando sabores diferentes e adocicados entre caramelo, café, chocolate e outras variantes.

É comum encontrar a venda cervejas que trazem em suas embalagens informações como "puro malte" e "cereais não maltados". Essas cervejas com cereais não maltados levam em sua composição na maioria das vezes milho, arroz ou outros ingredientes no mínimo desconfortantes para quem imagina estar bebendo uma cerveja pura e bem elaborada. No entanto, gosto é gosto, mas se você não liga para isso e tendo uma cervejinha bem gelada já está de bom tamanho, tente começar a comparar as cervejas. Continue tomando a sua mescla de malte e milho e de vez em quando compre uma puro malte ou uma especial, ou uma cerveja gourmet. Tenho certeza que o paladar mudará e diante de diferenças de preço, preze pelo bom gosto, afinal é muito melhor beber com qualidade do que apenas em quantidade.

"zdrowie"